sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Meio Ambiente e Saúde

Antes de falarmos de Meio Ambiente e Saúde devemos refletir: O que é Meio Ambiente? Em um sentido mais amplo, diferente daquele que tradicionalmente nos vem à cabeça, devemos entender Meio Ambiente como tudo aquilo que nos cerca. Assim, nossa casa, trabalho, ruas, cidade onde moramos, ou seja, tudo que nos cerca e certamente nos influencia, é nosso Meio Ambiente. Nesse sentido devemos nos preocupar com a poluição sonora, visual, com o trânsito, saneamento, relações pessoais, água, ar, e tudo o que possa levar à degradação local e global do Ambiente.
A relação que temos com nosso Meio Ambiente é influenciada por fatores sociais, culturais e econômicos. Em comunidades indígenas ou tribais podemos perceber a sustentabilidade com que se relacionam com o ambiente. Até mesmo dentro de uma mesma sociedade vemos diferentes comportamentos: porque alguns reciclam e outros não? Porque uns jogam lixo no chão? Porque uns poluem mais, gastam mais? Tudo isso está relacionado aos valores, influências e educação de cada pessoa. Um fator de grande influência, sem dúvida, é o modelo econômico. O capitalismo atual, com produtos tecnológicos fascinantes, carros modernos, conforto e com uma filosofia de competição e obsolescência programada, nos faz querer mais e mais. E para satisfazer nossos desejos as empresas e grandes indústrias fazem mais; poluem mais; produzem mais lixo; já não sabem o que fazer com o obsoleto.
A situação do Meio Ambiente e nossa relação com ele tem grande influência nos processos de saúde-doença. Percebemos isso facilmente quando refletimos sobre as causas da epidemia de dengue. Ou então quando analisamos índices de gastroenterites ou doenças parasitárias em comunidades sem saneamento básico. E as doenças respiratórias? Não são maiores em uma grande cidade como São Paulo? Nessas mesmas grandes cidades não são muitos os casos de stress devido à rotina corrida, aglomeração e poluição sonora? Até mesmo a poluição visual pode nos afetar. Recente matéria em uma revista sobre ciência atribui como uma das causas da falta de memória a grande quantidade de informação que o nosso cérebro está submetido nas grandes cidades.
As alterações ambientais a nível global também são preocupantes. A população só cresce, e ainda não conseguimos nos desenvolver de forma sustentável. Cada vez mais precisamos de áreas agricultáveis, novas áreas para rebanho, novas fontes de energia. Para isso comprometemos nossas florestas, recursos hídricos e nossa atmosfera. Já percebemos o resultado de tudo isso na elevação das temperaturas médias, fotos de satélites mostrando o desmatamento, poluição de rios e mares. Algumas epidemias são atribuidas ao desmatamento e adentramento do homem em alguns territórios e todas essas alterações ambientais afetam nossa saúde.
Devemos refletir sobre nossa relação com o Meio Ambiente. Alguns setores da sociadade já estão agindo, como as ongs. Algumas empresas também já demonstram uma preocupação ambiental. O fato é que devemos fazer algo e não precisa ser de ong ou de empresa. Basta nós ficarmos atentos às nossas atitudes e pesquisar sobre formas de como ajudar. Separe seu lixo, economize água e energia, ande um pouco a pé, não compre o que não precisa. A nossa conscientização e ação vai determinar o mundo que iremos deixar para as futuras gerações.

Marcelo Jacob

2 comentários:

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  2. O mundo dá voltas, afirma o senso comum. De fato, muitas vezes, fatos inéditos nos levam de volta a reflexões e conclusões muito antigas. Por exemplo, a crescente preocupação com as questões ambientais e suas potenciais consequências não apenas sobre alguns problemas específicos de saúde, mas sobre a própria sobrevivência da espécie humana, nos levam a recuperar conceitos que remontam, simplesmente, ao nascimento da Medicina. Isto é, situam-se há cerca de 26 séculos passados.

    Desde os primórdios, exceto quando era possível identificar uma causa manifesta (uma hemorragia em conseqüência da mordida de uma fera; uma fratura causada por acidente ou pela agressão de um inimigo), a saúde e a doença eram atribuídas à intervenção de seres sobrenaturais: deuses, semideuses, espíritos, demônios etc. Os meios de intervenção desta concepção mágico-religiosa de saúde e doença não podiam ser outros, senão as preces e os sacrifícios em honra da divindade, para conseguir-lhe bênçãos e aplacar-lhes a cólera.

    No século V a.C. nasceu a antepassada mais antiga da nossa prática médica: a Medicina naturalista. As bases desta “revolução grega” se encontram no pensamento dos filósofos pré-socráticos, e possui dois eixos principais: o ceticismo religioso e o naturalismo lógico. Isto é, a intenção de explicar a natureza (“physis” ) por meio da razão, sem recorrer a elementos situados “além da natureza”, isto é, sobrenaturais. Então, pela primeira vez na história conhecida da Humanidade, abandonavam-se as explicações situadas além da “physis” (metafísicas) e se buscava nela mesma a razão dos fenômenos. Cabe esclarecer que a “physis” grega não corresponde exatamente ao que chamamos de “natureza”, poi se tratava de um conceito totalizante, a englobar todos os seres vivos e todas as coisas existentes.

    Então, no séc. V a.C., os gregos começaram a acreditar na natureza e, a partir deste naturalismo lógico, se construiu a base naturalista da medicina. Dentre as várias escolas médicas surgidas, destaca-se aquela criada na ilha de Cós, tendo por mestre Hipócrates. Os escritos atribuídos a ele e aos seus discípulos são chamados a Coleção Hipocrática. Os cerca de 70 livros têm valor desigual, e nem todos podem ser seguramente atribuídos a Hipócrates mas, sem dúvida, são considerados os melhores representantes do pensamento médico hipocrático.

    Hipócrates usava o raciocínio indutivo, a experimentação, e negava as atitudes mágicas perante a doença. Em “Dos Ares, Águas e Lugares”, escreveu:
    “Quem desejar investigar apropriadamente em medicina, deve proceder assim: em primeiro lugar, levar em conta as estações do ano e o efeito que cada uma delas produz. A seguir, os ventos, o calor e o frio, especialmente em sua qualidade de comuns a todos os países e em função de suas peculiaridades em cada localidade”.
    “Da mesma maneira, quando alguém chega a uma cidade para a qual é estranho, deve considerar sua localização e como está orientado em relação aos ventos e ao sol; porque sua influência não é a mesma caso se olhe ao norte ou ao sul, ao levante e ao poente. Deve-se olhar atentamente as águas que os habitantes usam, se são pantanosas ou brandas, ou duras e provenientes de lugares elevados e rochosos e ainda se são salubres ou inadequadas para cozinhar; e o terreno, se é desolado e deficiente em água, ou arborizado e bem provido de água, e se está em um lugar profundo e fechado ou se é elevado e frio; e o modo como vivem os habitantes e quais são as suas ocupações, se são amantes da bebida e comem em excesso e dados à indolência, ou se apreciam o exercício e o trabalho”.

    Em suma, muitos séculos antes que a notável evolução do conhecimento científico nos permitisse constatar e antecipar os devastadores efeitos do irresponsável descaso com os “area, águas e lugares” do planeta, o pai da Medicina nos alertava para o papel central desta totalidade da qual faz parte o ser humano – a natureza, ou melhor, a “physis” – e nos ensinava que este saber e este cuidado estão na base da boa prática médica.

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